sábado, 10 de novembro de 2012

The ultimate comfort food

Almoço no Nood - ramen, evidentemente. Quentinho, picante, com um franguinho suculento, vegetais fresquinhos...


Sobremesa espetacular na Eric Kayser - macaronade de pistacho e framboesas. O receio de se tornar demasiado doce não se confirmou. Estaladiço por fora, aveludado por dentro, doce. Um creme que suavizou a doçura do macaron. Amazing.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Gemelli

One word: overpriced.

Fui finalmente usar o meu cupão Groupon. A chegada não foi muito simpática, chovia, tocámos à campainha e, sem resposta, tocámos outra vez. Ao subir as escadas, um senhor acenou com a cabeça e esperou que eu falasse. Confirmou o nome e disse baixinho: "O cupão?" Levou-nos à mesa, puxou uma cadeira e apontou. Não pretendo fancy treatment mas um "Olá boa noite" ou um "Queiram acompanhar-me" era simpático. Fiquei com a sensação de que o senhor tinha ficado irritado porque não era função dele receber as pessoas, era da senhora que devia estar numa pequena pausa, e foi por isso com certeza que nem sequer se ofereceram para pendurar os nossos casacos. Avante.

"Grana Padano" para entreter o estômago com bom pão e muito bom queijo.

O chef ofereceu um amuse bouche muito interessante. Shot de espinafres e amêndoa e um croquete de porco com molho de cebolinho.

Eu escolhi o risotto de cogumelos e gambas. Era agradável. E "agradável" não é suficiente para um prato de 25 euros. Gambas algo farinhentas, sem aquele toque fresco e limpo, arroz com pouca densidade de sabor para além do queijo e dos cogumelos - deliciosos... Mas não surpreendeu.

O João comeu os cannelloni de massa preta recheados com batata doce e sapateira. Muito bom, massa fresca muito interessante. Falhou por lhe faltar ali um lombinho de sapateira - algo mais carnudo, não desfeito, que apresentasse a textura da sapateira não diluída na batata.

Felizmente ambas as sobremesas eram incríveis, o que salvou um pouco uma noite de expectativas deitadas por terra. "Key lime pie" para o João... Intenso, cremoso, base compacta mas não pesada.

Panna cotta de caril com molho de banana e terrina de chocolate preto. O puré de banana tinha mais qualquer coisa super interessante, a terrina era fantástica, aveludada e intensa, como um bom chocolate preto. Pintas de um molho de chocolate com uma acidez que me levou a crer ter uísque ou qualquer coisa do género. Sobremesa a um mini-mini-passo de ser extraordinária, faltando apenas um bocadito de nada de mais consistência.

Gostei? Sim. Valeu os 35 euros que paguei na Groupon? Sim. Valeu os 79 e picos euros que iríamos gastar se não tivéssemos o cupão? Nem por isso. É sempre triste quando um amuse bouche, pela sua criatividade e sabores, ultrapassa o prato principal.

"Café?"
"Não, obrigada. Era só a potencial conta."
Deixámos uns trocos, só porque o senhor entretanto ficou bem disposto com a resposta e brincou connosco por termos puxado da calculadora para ter a certeza de que não ultrapassavamos os 80 euros que o cupão valia.

sábado, 13 de outubro de 2012

Plano B

Plano A: Gemelli. Primeira visita. Vejo a ementa online, babo-me, anseio por uma sobremesa com toque requintado. Preparo-me mentalmente para parar de trabalhar às 19:15, para sair às 19:30, para arranjar lugar de estacionamento, para andar um pouco a pé e estar no restaurante às 20:30.

Liga a televisão. Claro, tinha de haver uma manif na Assembleia... Telefono a cancelar. O senhor, do outro lado, com um tom de quem já ouviu este motivo mais do que uma vez hoje. Esta crise já me está a chatear.

Plano B: Tutto Combinatto. Não era bem isso que o meu palato desejava, que o meu cérebro já tinha comunicado ao resto do corpo que ia degustar... Mas reduz-se a desilusão do dia.

Canelone para o menino.


Tagliatelle com legumes e bacon para a menina.

Estava muito bom, e eu estou cheia. Mas faltava-me o doce - ainda comi uns M&M de framboesa para ver se o palato descansava, mas continuo a sonhar com um leite creme especial ou algo que o valha...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Sobremesa na Cafetaria Mensagem

Ahhh almoços de trabalho! Como gosto :)

Na Cafetaria Mensagem do hotel Altis Belém come-se bem. Hoje comi um risotto de pato com cogumelos que estava bom, mas o que gostei mesmo foi da sobremesa.

Tirar fotografias das sobremesas num almoço de trabalho é certamente pateta, mas o meu bolo de cenoura com nozes e gelado de gengibre estava tão bonito que não resisti. E não era só uma questão de aspecto. O bolo era húmido, a sua intensidade cortada pelas natas e pelo gelado cremoso que complementava um bolo que fica tão bem com especiarias. E um surpreendente biscoito super fino e estaladiço.

Aqui em baixo um creme de leite condensado...

Uma mousse com espuma de morangos (que foi pedida à parte devido à paixão intensa pela mousse). Uma espuma que me soube a marshmallows assados.

E o que era, essencialmente, uma mini bomba do Alaska. Linda, mas que não provei... Porque em almoços de trabalho não se pede para provar!! (só provei a espuma que acompanhava a mousse porque era a sobremesa da minha colega)


Faz-me pensar o que o Feitoria terá a oferecer...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Avenue

Quando se abre um restaurante em plena Avenida da Liberdade, aberto para almoços, tem-se de estar preparado para acolher clientes com pressa. Clientes que trabalham ali ao pé, que têm uma hora de almoço, que querem comer bem mas rápido.

A ementa, cá de fora, tinha bom ar. A decoração do restaurante não mudou quase nada desde os tempos do LA Caffe - que agora partilha o espaço do Tea Room em cima da loja de roupa da Lanidor.

O pão era bom, a manteiga caseira também. Mas o prato demorou mais de meia hora a vir para a mesa... Talvez não me incomodasse num jantar, mas ao almoço não é bem o ideal: quando vier a comida vou ter de a devorar para não me esticar com a hora de almoço.

A pobre rapariga sentiu a nossa impaciência, veio ter connosco - mas não é ela que está na cozinha e nada pode fazer se não "a cozinha pede desculpa pelo atraso" quando finalmente nos serve.

O prato da minha companhia era bom: um arroz quase risotto (e o restaurante defende-se bem ao não o chamar de risotto) com cogumelos e frango recheado com farinheira. Mas nada de especial ou diferente.


O cachaço de porco com migas de espargos prometia... Mas estava tão salgado que não consegui comer tudo.

E estão a ver as folhinhas de rúcula? Gosto muito de rúcula. Comecei a comê-las até que me apercebi que estava qualquer coisa colada a uma delas - parecia um casulo. A Ana agarra na folha e chama a senhora: "Olhe, o que é isto??" "Não sei, mas vou já saber." Vai à cozinha e eu comento: "Aposto que abriram uma embalagem daquelas de supermercado e meteram aqui umas folhas sem sequer lavar." Ponho o resto da rúcula para o lado. "Quer dizer, se estou em casa até sou capaz de não lavar a salada pré-embalada e pré-lavada, mas quando vou a um restaurante..." e pago 13 euros por um prato espero que se dêem a esse trabalho. A senhora volta lá de dentro e assegura que era uma sementinha que vinha no saco porque a rúcula vinha na mesma embalagem que a alface e tal, garantindo que não é sujidade. Pois.

Pobre rapariga, a dar a cara pela cozinha. Trabalho ingrato.

Não foi uma experiência negativa, mas positiva também não foi...

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Trattoria

Há muitos anos queria experimentar o Trattoria - bom ar e, diziam-me, caro, o que poderia ser um indício de qualidade. Finalmente apareceu um desconto no Goodlife: paguei 39€ para uma refeição de 78€. Not bad...

Quando cheguei ao restaurante vi que tinham imensas promoções (por exemplo, às segundas-feiras duas pizzas pelo preço de uma) e portanto não tenho a certeza se chegaria aos 78€. Pareceu-me acessível.

Começámos com o Tartare di Salmone e Avocado, o salmão cozinhado pelos sucos da lima e, não surpreendentemente, delicioso.


A Bruschetta Gourmet era muito interessante, com uma combinação que nunca tinha experimentado e que é facilmente reproduzível em casa: grelos salteados, ovos de codorniz e azeite de trufa branca.


O João pediu uma Lasagna que me pareceu normal, com a excepção de a massa ser muito fininha. A foto está muito desfocada, mas fica-se com uma noção do tamanho da dose.


Depois de tanto ver a receita do Gordon Ramsay, finalmente provei um Beef Wellington!! Absolutamente extraordinário. Carne tenra, saborosa, cogumelos, alho, massa estaladiça... Acompanhada de cogumelos recheados com queijo de cabra (ou o que me pareceu ser queijo de cabra) e uma salada de rúcula e tomate. Inesquecível.


Infelizmente, a sobremesa foi muito fraca. Estava indecisa entre o chiffon de chocolate, a panna cotta e a tarte de limão. Acabei por escolher a nata cozida, com a ajuda da empregada de mesa - e foi um erro. Para mim a panna cotta deve ser leve, aveludada, suave embora consistente. Mas esta era demasiado firme e tinha uma inovação dispensável: amêndoas misturadas na própria nata. Note-se que só comi metade da sobremesa... (!!)


O tiramissú era bastante melhor - mas ainda assim diria que o mais fraco da refeição. Não se pode ter tudo!

sábado, 30 de junho de 2012

33

Parabéns João :)

Bolo de iogurte com creme de mascarpone e raspas de lima, coberto com creme de chocolate 70%, raspas de chocolate branco estupidamente colocadas quando o creme de chocolate preto ainda estava morno, criando um efeito tagliatelle, e raspas de limão.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Restaurante da Casa da Música

Último dia de férias no Porto e a única coisa que queria fazer era ir comer um gelado à Sincelo, mas diz o Lifecooler que fecha às segundas! Mudança de planos e escrevo no Google "turismo Porto" para me dar ideias. Descubro que a Casa da Música tem um restaurante, que até tem bom ar. E pagámos 56,50 euros no total - nada má relação qualidade-preço.

O João escolheu o menu gourmet com entrada, prato e sobremesa. Começou com uma trilogia de salmão com molho de mostarda doce. O tártaro era interessante, com pickles de couve-flor ; o tataky era bom mas sem surpresas ; e o mil folhas tinha uma massa suave e alcaparras - o meu preferido dos três. O peixe tinha um bom corte.


Eu escolhi um crocante de queijo de cabra com courgette e doce de figo. É verdade que havia entradas ou petiscos mais interessantes e fora do vulgar - mas eram mais caros. Para mim, o toque da courgette, mais do que o doce de figo, foi o que fez o prato destacar-se. A massa era fina e estaladiça (sem ser filo), o agrião estava bem temperado, o queijo aveludado. A courgette ali no meio: invulgar.


Lombo de novilho com caviar de beringela, flan de polenta e foie gras com espinafres salteados e molho de vinho tinto. Carne tenrinha. Não sei bem de onde veio o termo "caviar" mas a pasta de beringela complementava muito bem o prato, e o foie gras combinava na perfeição com a polenta.


O meu prato era muito bom mas a letra causou desilusão. Afinal, eu escolhi atum em crosta de pistáchio e gergelim, chutney de tomate e raiz de lotus... E não senti pistáchio em lado nenhum. Aliás, duvidei até ao fim que o atum tivesse sequer vislumbrado pistáchio, pensando até que talvez o chef não tivesse encontrado no mercado e se tivesse ficado pelo sésamo. Mas esclareceu a menina, como se gosta de dizer aqui no Porto, que era pó de pistáchio misturado com o "guerguelim" (sim, fiz um esforço para a não corrigir). Não duvido que lá estivesse, mas convenhamos que o sésamo tem um sabor intenso e que deveriam então ter colocado mais pistáchio e menos sésamo para eu conseguir saborear o fruto seco, que era o que lhe dava o toque invulgar... Mas avante! Dois espargos bem cozinhados, raiz de lotus estaladiça e polvilhada levemente com açúcar em pó e um chutney bom mas um pouco doce demais, acabando por se tornar enjoativo. Atum cozinhado na perfeição, se bem que o corte podia ser um bocadito de nada melhor.


Suspiro de chocolate com ganache de avelã e ameixa glaceada, gelado de maracujá e coulis de beterraba. Adoro suspiros e fui-me a eles até porque o João não gosta da textura, que o faz lembrar esferovite. Ganache deliciosa, ameixa firme... Muito bom.


Depois de uma breve indecisão, em que descartei o crepe de pistáchio com receio de seguir a tendência do atum, escolhi o crumble de morangos e pêra com gelado de especiarias - a grande surpresa do almoço. Açafrão, caril, canela... Um sabor forte que me deliciou até ao final e até me fez esquecer que não provei pistáchios.


Serviço simpático, competente, não-chato e saio do Porto com vontade de voltar.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

The Yeatman

O karma existe. Tenho provas. Trabalhar muito e bem compensa. Ganhei uma espécie de prémio "empregada do trimestre" e ofereceram-me uma experiência. Eu podia ter passado a semana inteira num sítio barato, mas o que eu queria era fazer uma coisa que não me permito fazer no dia a dia. Portanto, marquei uma noite e uma refeição de luxo para dois no Yeatman, em Gaia.


Chegada ao hotel. Envio uma foto ao meu chefe: 
I suddenly feel the need to work harder when I get back to win another thank you award.


O hotel em si é espantoso, uma garrafeira enorme (não fosse o Yeatman um hotel vínico), cada piso seguindo um tema e funcionando quase como museu (um piso com mapas do século XVI, outro com a história do vinho do porto,...), quartos virados para o rio, confortáveis e temáticos também, cada um "patrocinado" por uma marca de vinhos portuguesa. O hotel é lindo e vale a pena perder tempo a percorrer os corredores para ver a arte.

Passámos a tarde na piscina interior, vimos de longe o ginásio bem apetrechado, recebemos uma massagem de mãos (oferta), fomos beber qualquer coisita ao bar. Às nove sentámo-nos no restaurante, onde degustámos A Grande Experiência Yeatman. Para quem aprecia muito vinhos e sabe degustá-los, há um suplemento de vinho para cada prato. Nós pedimos conselhos à escanção e ficámo-nos por dois copitos. O João adorou o Quinta da Romaneira Reserva 2008 (tinto).

Vou ser clara. A estrela Michelin é merecida. Alguns elementos não eram para mim, porque não aprecio moluscos ou bivalves em geral (excepto vieiras!), mas reconheço que a confecção era impecável, as texturas suaves.

Começámos com as boas-vindas do chef. No pote uma mousse de percebes, na colher um mexilhão, uma terrina, rabo de boi, foie gras com pele crocante de frango. Estrela: macaron de morcela. O doce do macaron contrastava com o salgado... Incrível.

Lamento informar que falhei e não fotografei a segunda boa-vinda: um jardim. Um copo que tinha "terra", "ervas", legumes e... um caracol. Devo ter ficado tão abalada com a visão, e simultaneamente impressionada com os "tomates" do chef Ricardo Costa, que me esqueci de pôr a máquina a funcionar. Foi o único elemento de toda a refeição que não provei: comi o jardim, deixei o bicho para o João.

Seguiu-se o camarão do Algarve marinado, sorvete de yuzu e caldo de pepino. Três texturas (marinado, o camarão inteiro e um carpaccio) num prato simples que continuou a fazer-me sorrir, principalmente quando fiz explodir a esfera branca e pude molhar o marinado no que parecia ser uma nata ligeira.

Uma explosão de sabor com o suculento lavagante nacional glaceado com caldo de ostras acompanhado com uma terrina surpreendente de enguia e foie gras e um torresmo.

Uma alegre e "fofinha" salada especial de vieiras, carabineiro e salmonete. Cheia de legumes pequeninos pequeninos, al dente, com um dos meus ingredientes favoritos (vieiras!). Potencialmente o meu favorito.

Cherne sautée com crosta de tomate, lula recheada e molho de manjericão. Uma crosta salgada e forte, peixe suculento, uma polenta suave quase em textura de pudim, um torresmo de pele de peixe, funcho.

A primeira SURPRESA do chef, um prato que não estava no menu e recriando um prato tradicional: ervilhas com ovos! Ovo escalfado lentamente com puré de ervilhas (e algumas ervilhas al dente), espuma de espargos e pancetta estaladiça. Não sou super fã desta textura de ovo por isso não raspei o prato, mas fiquei boquiaberta com esta inovação.

Um lombinho de vitela com pimentas, ravioli de aves e molho de pistáchios. Outro elemento que adoro: pistáchios. Um ravioli muito interessante, um cogumelo que nunca tinha visto na vida e quase parecia uma mini-trufa. Tinha uma textura que me incomodou levemente, mas o sabor era incrível.

Ganache de foie gras de Landes com gelado de iogurte salgado e brioche trufado. Gosto de foie gras mas em pequenas quantidades como complemento de outro ingrediente. Este prato era um pouco forte demais para mim e passei-o ao João ao fim de algumas colheradas (ele não se importou nada e era capaz de fazer uma refeição só daquilo). Ganache suave, leve, aveludada, com uma fatia para contrastar...

A segunda SURPRESA do chef, pré-sobremesa. Um prato de queijo. O triângulo era pão tipo brioche, muito delicado, a meio uma tostinha de pão com azeitonas, um queijo forte amenteigado, um queijo suave quase em creme, cubos de abóbora e... Suspiros. É verdade. Mudou tudo - estava ali a estrela.

A sobremesa: uma esfera de chocolate, mousse de tangerina e caldo de côco. Pétalas de flores que complementavam a mousse e tudo complementava a esfera, inclusivamente o vinho do porto vintage que me sugeriram.

Uma recriação espantosa de um clássico porque a esfera... Era uma bomboca!

Para terminar, para acompanhar a infusão do chef e o café, mignardises. E uma grande felicidade por o João estar a abarrotar e só comer uma delas. Crocante de chocolate, crocante de amêndoa (ou outro fruto seco - o meu palato já não se recorda!), o quadrado era uma quase gelatina, ganache, macarron.

Só tive pena de não ficar mais tempo para ir à piscina, para ir ao spa, ao ginásio, à garrafeira, para ficar sem fazer nada na varanda do quarto a olhar para o Douro. Para ir provar outras coisas ao restaurante.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Aura (ou o caso do palato confuso)

Último dia do Restaurant Week. A noite começa com uma pancada nas minhas costas, a caminho do restaurante. Que raio? Uma pedra? Terá sido um carro que, a passar com mais velocidade, lançou uma pedrita que me acertou? Não. Teria doído, mas não doeu - senti apenas um impacto. Olhei para cima. O João, enojado, oferece-se carinhosamente - apesar do esforço para combater o vómito - para ir lavar a cagadela à casa de banho do restaurante. Sempre ouvi dizer que dava sorte e a noite de facto correu bem, por isso suponho que seja verdade.

O Aura tem um espaço muito simpático, refinado e com uns toques de Lisboa antiga nas arcadas.

O empregado tardou a vir oferecer o "cóvér" (apeteceu-me perguntar "e o que é que há?") - os molhos e manteigas não convenceram. Estava também distraído e nem me perguntou que tipo de pão eu queria, nem me ouviu a pedir o pão com sementes de papoila. Pôs um qualquer no prato, substituindo-o depois de eu me convencer a falar mais alto. Minutos depois chegaram as entradas, que podiam ter esperado mais uns minutos para de facto provarmos com calma o "cóvér".


Cesto de parmesão com espinafres frescos, bacon estaladiço e molho de iogurte. Um cesto bonito e inovador que pecou por ter sido feito com demasiada antecedência. Seria simpático estar mais estaladiço, mas era quase impossível falhar com bacon!

Casca de mexilhão gratinado em broa de milho tostada e lima caramelizada. Como as restantes entradas, a dose era bem servida. Não provei devido à aversão por bivalves em geral, mas diz que estava bom. Uma sorte terem servido o mexilhão e não só a casca (piada fácil!...).

Sopa de peixe, croutons aromatizados. Era um bom caldo de marisco com peixe - mas os chefs ou as pessoas que formulam o nome dos pratos só ganhavam em dar-lhes nomes adequados, evitando assim que o cliente fique desiludido ou estranhe o sabor, por estar a preparar o palato para uma coisa que não vai provar.

Bochechas de porco preto em vinho tinto com migas de espargos selvagem. Bochechas tenrinhas (mas não tanto como as da Quinta dos Frades), molho denso, migas extraordinárias que fizeram lembrar a Adega do Alentejano em Évora.

Posta mirandesa com couve tronchuda e broa de milho. Carne deliciosa e legumes muito bem temperados. Reconfortante, convenceu-me a voltar um dia.

Filete de dourada recheado com legumes, batata doce. Apesar de saboroso, não era nada que não se conseguisse fazer em casa. Não impressionou.

aura emotion. Um suspiro e creme de chocolate. Muito bom, mas não ao ponto de nos fazer suspirar (outra piada fácil...).

Sinfonia de creme brulé. O pote da esquerda decorado com mirtilos, o do meio com physalis, o da direita com framboesas. Que engraçado, disse eu. Sabe mesmo a mirtilo. E o do meio, tão interessante. Mas não deve ser physalis, porque não tem essa acidez... Humm, já penso sobre o assunto. E o da direita, que giro, sabe mesmo a framboesa. 

Uma textura cremosa, mas talvez pesada demais para um prato de três degustações (ou as doses deveriam ser menores aqui). O do meio assombrava-me. Mas o que é? Colher aqui, colher ali, desfaz o creme no palato com a ponta da língua. E de repente fez-se luz. É avelã. Sim, é avelã. O Paulo concorda comigo.

O empregado vem levantar os pratos e, só para confirmar, perguntamos: o do meio, o mais escuro, era de quê? O das "bolinhas", diz ele, era de baunilha, o escuro era chocolate e o com as framboesas era de frutos vermelhos.

Fiquei confusa. Chocolate? Mas eu teria reconhecido esse sabor... Ou não? Mas talvez não deva acreditar na palavra de uma pessoa que chama "bolinhas" a mirtilos. Quanto ao terceiro, não estava muito longe da verdade. Mas como pude confundir baunilha com mirtilos e chocolate com avelã?

Uma noite a ficar na memória, que mais não seja por ficar escandalizada com o discernimento do meu palato.