Por vezes, quando um restaurante tem um certo aspecto e ambiente e as palavras no menu nos cantam ao palato, acabamos figurativamente estatelados no chão. Já me aconteceu inúmeras vezes mas hoje este sentimento viu a luz do dia e por isso é que estou aqui sentada, a teclar enquanto afogo a desilusão num caseiro bolo de chocolate com amência moída, muito pouco trigo, e alguns pistachos. Mas esta receita fica para outra altura.
Reconheço a minha reconhecida falta de paciência e por isso admito que me tenha talvez precipitado em sair dos Tibetanos sem almoçar porque me fizeram esperar 10 minutos e depois sentaram antes de mim um casal amigo que tinha acabado de chegar, e que eu ouvi dizer (não sou cusca, mas o espaço é pequeno e não tinha como não ouvir) não terem reserva. Foi a primeira desilusão da hora de almoço, os Tibetanos, com o Dalai Lama ali a olhar para nós, sereno, e certamente a reprovar de forma afável a injustiça de que eu estava a ser alvo.
Talvez eu devesse ter prolongado a minha observação da fotografia do Dalai Lama, e lembrar-me dos seus ensinamentos sobre a paciência, porque foi karma eu ter pago 9 euros para almoçar assim-assim num restaurante ali não muito longe, em vez de gastar 9 euros para almoçar incrivelmente bem, como almoço sempre, nos Tibetanos. E saudável.
Fui andando, andando pela Barata Salgueiro, vi a Emporio Armani com uma promoção qualquer que sei que por mais tentativas faça nunca aproveito porque, raios, não vou dar 150 euros por um par de calças que está com desconto de 50%, e desci mais um pouco. Ah, lá está o café/restaurante SMarta com refeições tugas baratinhas... Mas a minha necessidade de comer em sítios bonitos congelou-me à beira da passadeira e dei por mim a entrar, como se estivesse enfeitiçada, no Chutney's Bistro.
Diga-se que já comi muito bem no Chutney's, restaurante do Hotel Lisboa. Decidi, aventureira, experimentar algo diferente. Galinha Tandoori Burger. Soa bem, não soa? Tipo junk food avançada - que satisfaz aquela necessidade inexplicável de comer coisas que façam mal, mas que agrade à vista e traga algo de diferente ao paladar.
O prato tinha muito bom aspecto, mas apercebi-me no primeiro segundo que o pão não era nada de jeito. As batatas fritas eram boas, embora claramente congeladas. A salada era normal, mas o toque da amêndoa laminada e de sésamo no topo conferiu ao prato uma certa graça. Mas a galinha era dura, o pão pouco fresco e pouco saboroso. Os molhos eram muito bons, mas o molho sozinho sente-se abandonado.
Não fiquei absolutamente desiludida, mas ter de usar fio dentário depois de uma refeição de galinha não é coisa que fique positivamente na memória.
Tal como as miúdas que se apaixonam por um homem bonito e assim permanecem até ao dia em que de facto o conhecem e ele abre a boca, caiu-me tudo. Se calhar devia ter esperado mais um bocadinho, só mais um bocadinho, e a senhora nos Tibetanos acabava o café e dava-me lugar.