sexta-feira, 23 de abril de 2010

Expectativas

Por vezes, quando um restaurante tem um certo aspecto e ambiente e as palavras no menu nos cantam ao palato, acabamos figurativamente estatelados no chão. Já me aconteceu inúmeras vezes mas hoje este sentimento viu a luz do dia e por isso é que estou aqui sentada, a teclar enquanto afogo a desilusão num caseiro bolo de chocolate com amência moída, muito pouco trigo, e alguns pistachos. Mas esta receita fica para outra altura.

Reconheço a minha reconhecida falta de paciência e por isso admito que me tenha talvez precipitado em sair dos Tibetanos sem almoçar porque me fizeram esperar 10 minutos e depois sentaram antes de mim um casal amigo que tinha acabado de chegar, e que eu ouvi dizer (não sou cusca, mas o espaço é pequeno e não tinha como não ouvir) não terem reserva. Foi a primeira desilusão da hora de almoço, os Tibetanos, com o Dalai Lama ali a olhar para nós, sereno, e certamente a reprovar de forma afável a injustiça de que eu estava a ser alvo.

Talvez eu devesse ter prolongado a minha observação da fotografia do Dalai Lama, e lembrar-me dos seus ensinamentos sobre a paciência, porque foi karma eu ter pago 9 euros para almoçar assim-assim num restaurante ali não muito longe, em vez de gastar 9 euros para almoçar incrivelmente bem, como almoço sempre, nos Tibetanos. E saudável.

Fui andando, andando pela Barata Salgueiro, vi a Emporio Armani com uma promoção qualquer que sei que por mais tentativas faça nunca aproveito porque, raios, não vou dar 150 euros por um par de calças que está com desconto de 50%, e desci mais um pouco. Ah, lá está o café/restaurante SMarta com refeições tugas baratinhas... Mas a minha necessidade de comer em sítios bonitos congelou-me à beira da passadeira e dei por mim a entrar, como se estivesse enfeitiçada, no Chutney's Bistro.

Diga-se que já comi muito bem no Chutney's, restaurante do Hotel Lisboa. Decidi, aventureira, experimentar algo diferente. Galinha Tandoori Burger. Soa bem, não soa? Tipo junk food avançada - que satisfaz aquela necessidade inexplicável de comer coisas que façam mal, mas que agrade à vista e traga algo de diferente ao paladar.

O prato tinha muito bom aspecto, mas apercebi-me no primeiro segundo que o pão não era nada de jeito. As batatas fritas eram boas, embora claramente congeladas. A salada era normal, mas o toque da amêndoa laminada e de sésamo no topo conferiu ao prato uma certa graça. Mas a galinha era dura, o pão pouco fresco e pouco saboroso. Os molhos eram muito bons, mas o molho sozinho sente-se abandonado.

Não fiquei absolutamente desiludida, mas ter de usar fio dentário depois de uma refeição de galinha não é coisa que fique positivamente na memória.

Tal como as miúdas que se apaixonam por um homem bonito e assim permanecem até ao dia em que de facto o conhecem e ele abre a boca, caiu-me tudo. Se calhar devia ter esperado mais um bocadinho, só mais um bocadinho, e a senhora nos Tibetanos acabava o café e dava-me lugar.

sábado, 17 de abril de 2010

Tarte de Ruibarbo e Morango

Ontem, numa expedição ao El Corte Ingles em busca de massa de arroz (que não encontrei!!!) deparei-me com uma planta muito cultivada em Inglaterra. O ruibarbo, longo e rosa, fez-me lembrar uma receita que vi a Nigella Lawson fazer no outro dia no programa que passa na Sic Mulher. A Nigella, para mim, é uma espécie de versão actualizada e sexy das famosas Clarissa Dickson Wright e Jennifer Paterson do programa "Two Fat Ladies" - aquelas unhas vermelhas cravadas na carne nunca me sairão cabeça. Assim como a receita estranhíssima que disseram ter aprendido em Portugal de pastéis de bacalhau, que ficou enterrado em salsa e vinho do porto (!). A Nigella faz-me lembrar as senhoras gordas porque não quer saber da saúde para nada - ela cozinha o que bem lhe apetece, só se interessa pelo sabor, e se isso significar que precisa de um quilo inteiro de margarina para o lombo ficar tenro e delicioso, then so be it!

Ora, lá fui eu googlar a receita da Nigella. Mas os comentários que li não eram muito simpáticos - parece que a massa ficava muito ensopada - e, de qualquer modo, como eu não tinha moscatel resolvi procurar outra receita. Ah ha, mas lembrei-me que a Cindy Crawford foi à Oprah e mostrou como fazer uma tarte de ruibarbo e morango. A mistura agradou-me, por isso alterei a missão de busca e degustação.

Resolvi usar uma das receitas de massa areada do meu estimado Pantagruel para não falhar (tendo, ainda sim, alterado um pouco a mesma adicionando água para a massa ficar estendível por oposição a somente espalmável, e segui a receita da Cindy para o recheio, ignorando a manteiga e o leite.

O resultado final foi muito bom, tive mais três bocas adultas e uma jovem para testar.


Massa 3944 do Pantagruel - Massa areada à portuguesa com margarina
- 1/2 kg farinha
- 125 gr açúcar
- 125 gr margarina
- 1 ovo ligeiramente batido
- 1/8 de colher de café de sal (que é como quem diz: pitada)

- E adicionei umas 4 colheres de sopa de água gelada


Recheio da Cindy, que fanou de uma revista qualquer, vide http://www.oprah.com/food/Cindy-Crawfords-Strawberry-Rhubarb-Pie
1 1/4 cups plus 2 teaspoons sugar (250 gr açúcar)
1/3 cup all-purpose flour (50 gr farinha)
1/4 teaspoon nutmeg (pitada de noz moscada)
1/4 teaspoon cinnamon (pitada de canela)
3 cups halved strawberries (na realidade pus menos que ruibarbo, era o que tinha!)
2 cups thinly sliced rhubarb (comprei uma embalagem de 750gr, cortei as zonas mais perto das folhas porque são tóxicas e tirei alguma pele rosa)
2 tablespoons butter , cut up (não usei)
2 teaspoons milk (não usei)

Convém fazer o recheio e deixá-lo repousar meia horinha porque sai imenso líquido dos morangos e das hastes de ruibarbo. Talvez funcione melhor usar farinha maizena em vez da de trigo normal para engrossar mais... Will try!

Mesmo com esta meia hora de espera e depois dos 40 minutos no forno a 180 graus + quase 1 hora de arrefecimento, a tarte tinha demasiado líquido, por isso inclinei a forma um bocadinho e despejei o excesso no lava-loiças.

Comi logo duas fatias... Já me sinto mais britânica e tudo.