Reservámos mesa para as oito e meia. Depois de uma volta redonda à procura de lugar gratuito, falhada, estacionámos no parque. Entrámos numa lua branca com uma nuvem inquieta a pairar sobre a mesa maior.
Ao início estávamos rodeados de um silêncio intimidador, que nos fazia sussurrar e controlar os disparates. Eu pedi o primeiro menu de degustação, ele pediu o segundo. Sabia que ia ser uma refeição cara, por isso queria experimentar o máximo possível de pratos.
Entretanto, chegaram mais pessoas, mal vestidas como nós e em comparação com os empinados do canto, com conversas normais e não cultas, e ficámos mais à vontade para os disparates do costume.
O simpático empregado sabia a descrição dos pratos de cor e salteado e sempre que nos trazia um prato explicava o que íamos degustar. O João não dava atenção nenhuma e depois de o empregado se ir embora perguntava-me o que estava a comer.
A entrada, igual para os dois, foi (em termos leigos não correspondentes à descrição do bom do empregado) cavala sobre uma rodela de batata bem cozinhada, umas ervinhas e maionese. Normal.
Depois, para mim vieram duas vieiras somente coradas com um puré de couve-flor e azeite de caril. Comecei a sorrir. O João comeu polvo, tão tenrinho que suspeito que o Alma tem um espancador profissional de serviço.
Para o João, veio o tradicional bacalhau com grão - o grão "al dente", o bacalhau levemente cozinhado, com a dose certa de sal. Eu comi dourada com a pele tostada e deliciosa com um puré de funcho. Diferente - fez-me lembrar que é por isso que eu gosto de ir a restaurantes gourmet.
Seguiram-se três fatias finíssimas de alcatra sobre puré de batata e com uma redução envolvida em pastinaga e cogumelos. Glorified vaca com molho de ostras, disse o João para manter a tradição dos disparates. Delicioso. O João comeu leitão com puré de batata doce - uma especialidade.
"Ofereceram-nos" de seguida um sorvete de caipirinha para limpar o palato. Um sorvete de lima com um toque de cachaça e ainda um dedinho de doce de frutos vermelhos. Extraordinário.
E, por fim, as sobremesas. A minha era normal. Gostava que fosse diferente, mas fazia parte do menu que escolhi. Petit-gateau com gelado de gengibre (se bem que não me soube muito a gengibre e o gelado derreteu a uma velocidade que contrariou o objectivo da degustação). Era bom mas não caí de joelhos no meu palato. O João, sim, comeu uma sobremesa digna de restaurante gourmet. Uma tarte de pêra e maçã com gelado de chévre. Diferente, delicioso, inesquecível.
O café foi servido com bolinhas de chocolate com um centro de gengibre, ao estilo Claudio Corallo.
Preço total para os dois: 90 euros (39€ cada menu + água + café).
Vou regressar certamente daqui a uns mesinhos, possivelmente ignorando os menus e escolhendo os pratos de tamanho normal que, by the way, têm de facto um tamanho normal.
Uma noite muito bem passada :)