sexta-feira, 15 de outubro de 2010

La Paparrucha

O Vítor Sobral está contra mim.
Quarta-feira telefono três ou quatro vezes para a Tasca da Esquina para marcar mesa. Ninguém atende. Às 18.30 vamos ao cinema numa sessão quase exclusiva para nós (só havia mais um casal na sala! devem ter ficado tristes quando entrámos e se aperceberam que não iam ter a sala só para eles) e decidimos esperar pelo intervalo para voltar a ligar. Acabámos por não o fazer por já ser tão tarde - a projecção não arrancou quando devia, e o intervalo atrasou a coisa...

Quinta-feira telefono e marco mesa para as 20.00. Porque só é possível marcar mesa para as 20.00 ou para as 22.00. É uma regra estranha, mas o Vitinho lá sabe o que faz.

Saímos de casa às 19.15, na certeza que assim chegaríamos bem a tempo. Mas o trânsito da Av da República decidiu que não era desta e às 20.00, ainda no Saldanha, telefonei à Tasca a desmarcar. Afinal, avisaram-me que tinha de libertar a mesa às 22.00, eu só ia chegar lá para as 20.30 com sorte, e comer à pressa não é coisa que nos agrade.

Plano B, plano B... Eleven? Demasiado caro. Panorama? Mesma coisa. La Paparrucha.
Liguei e pedi mesa com vista, para dali a 40 minutos. Com vista só na zona de fumadores. Olhe, não faz mal, pode ser então na zona de fumadores, até já e obrigada.

Estacionámos no jardim do Príncipe Real, onde finalmente tivemos sorte e não andámos às voltas para arranjar lugar. Andámos até ao restaurante e pelo caminho assistimos de raspão à inauguração de uma loja e vimos uma pizza shop, daqueles à americana tipo grab and go.

Fomos recebidos com grande amabilidade e levaram-nos até ao terraço onde a vista e, afortunadamente, o bom tempo compensaram a dor de cabeça até lá chegar.

Caipirinha simpática, pastéis saborosos mas que se calhar não devia ter comido para não ficar a abarrotar no final.

Comi um bife do lombo grelhado e o João um T-Bone gigante que ameaçou não existir por uns segundos e o levou a ter de pegar na lista novamente. Pateticamente, todos os acompanhamentos são pagos à parte - escolhemos batata assada, milho assado e espinafres. Para sobremesa, e apesar de estar boa para rebolar até ao carro, escolhi uma tentação de maçã que me soube bem mas que claramente não devia ter comido.

O único defeito que tenho a pôr ao La Paparrucha é, de facto, os acompanhamentos serem todos pagos à parte. Quer-me parecer que por 25 euros podiam "oferecer" pelo menos dois.

Com a caipirinha, o vinho, a água, a sobremesa, a couvert, as entradas, para os dois ficou a pouco mais de 90 euros.

A repetir quando precisar de uma grandeeeeeeeeee dose de proteína, mas sem capirinhas nem entradas nem sobremesas...

Alma

Reservámos mesa para as oito e meia. Depois de uma volta redonda à procura de lugar gratuito, falhada, estacionámos no parque. Entrámos numa lua branca com uma nuvem inquieta a pairar sobre a mesa maior.

Ao início estávamos rodeados de um silêncio intimidador, que nos fazia sussurrar e controlar os disparates. Eu pedi o primeiro menu de degustação, ele pediu o segundo. Sabia que ia ser uma refeição cara, por isso queria experimentar o máximo possível de pratos.

Entretanto, chegaram mais pessoas, mal vestidas como nós e em comparação com os empinados do canto, com conversas normais e não cultas, e ficámos mais à vontade para os disparates do costume.

O simpático empregado sabia a descrição dos pratos de cor e salteado e sempre que nos trazia um prato explicava o que íamos degustar. O João não dava atenção nenhuma e depois de o empregado se ir embora perguntava-me o que estava a comer.

A entrada, igual para os dois, foi (em termos leigos não correspondentes à descrição do bom do empregado) cavala sobre uma rodela de batata bem cozinhada, umas ervinhas e maionese. Normal.

Depois, para mim vieram duas vieiras somente coradas com um puré de couve-flor e azeite de caril. Comecei a sorrir. O João comeu polvo, tão tenrinho que suspeito que o Alma tem um espancador profissional de serviço.

Para o João, veio o tradicional bacalhau com grão - o grão "al dente", o bacalhau levemente cozinhado, com a dose certa de sal. Eu comi dourada com a pele tostada e deliciosa com um puré de funcho. Diferente - fez-me lembrar que é por isso que eu gosto de ir a restaurantes gourmet.

Seguiram-se três fatias finíssimas de alcatra sobre puré de batata e com uma redução envolvida em pastinaga e cogumelos. Glorified vaca com molho de ostras, disse o João para manter a tradição dos disparates. Delicioso. O João comeu leitão com puré de batata doce - uma especialidade.

"Ofereceram-nos" de seguida um sorvete de caipirinha para limpar o palato. Um sorvete de lima com um toque de cachaça e ainda um dedinho de doce de frutos vermelhos. Extraordinário.

E, por fim, as sobremesas. A minha era normal. Gostava que fosse diferente, mas fazia parte do menu que escolhi. Petit-gateau com gelado de gengibre (se bem que não me soube muito a gengibre e o gelado derreteu a uma velocidade que contrariou o objectivo da degustação). Era bom mas não caí de joelhos no meu palato. O João, sim, comeu uma sobremesa digna de restaurante gourmet. Uma tarte de pêra e maçã com gelado de chévre. Diferente, delicioso, inesquecível.

O café foi servido com bolinhas de chocolate com um centro de gengibre, ao estilo Claudio Corallo.

Preço total para os dois: 90 euros (39€ cada menu + água + café).

Vou regressar certamente daqui a uns mesinhos, possivelmente ignorando os menus e escolhendo os pratos de tamanho normal que, by the way, têm de facto um tamanho normal.

Uma noite muito bem passada :)