quarta-feira, 31 de março de 2010

Eufemismos culinários

Talvez por ser uma mulher de letras, cada vez que pego num menu de restaurante reparo nos erros de ortografia. É um exercício particularmente divertido em restaurantes chineses.

Em duas recentes expedições deparei-me com algo que - não sei se por distracção, inexistência de, ou outro - nunca tinha reparado. Uma espécie de eufemismo culinário.

Tal como os "contínuos" passaram a ser "auxiliares de acção educativa", muitos restaurantes optaram por dramatizar e embelezar os nomes dos pratos que servem. Na realidade, o grau de pré-satisfação do cliente é superior à utilização da palavra antiga, não-polida. O prato parece mais apetitoso, o restaurante deixa de ser "tasca" e passa a ser "rústico", o cliente sente que o seu dinheiro vale mais porque, afinal, está a comprar um produto claramente gourmet. O restaurante pode até cobrar mais por um prato só alterando o nome.

Exemplo nº 1: Cervejaria Lusitana
Nome do prato: Gratinado de batata recheado com vitela picada
Também conhecido como: Empadão
Preço do empadão na tasca: 5 EUR
Preço do empadão com nome especial no restaurante rústico: 10 EUR

Exemplo nº2: Restaurante Japonês Suntory
Nome do prato: Tempura de gelado
Também conhecido como: Gelado frito
Preço da sobremesa no chinês/japonês da esquina: 2,5 EUR
Preço da sobremesa no japonês de classe alta: 5 EUR

Não me estou a queixar... Aliás assim até providenciam bom entretenimento. Tenho de deixar uma boa "gorja" (na acepcção de "gorjeta", ainda não aceite pela academia)... Que é como quem diz: atribuir um prémio de produtividade ao especialista em logística de alimentos e atendimento ao cliente.